8ºs Anos B e C - Língua Portuguesa - 01/10
O BILHETE DO AMOR
Logo que colocou os objetos embaixo da carteira, Pitu encontrou o
bilhete. Leu, ficou vermelho, colocou no bolso, não mostrou pra ninguém. De vez
em quando, mordia-lhe uma curiosidade grande, uma vontade de reler pra ter
certeza. Era uma revelação que ele não estava esperando.
Não podia dizer que estivesse achando ruim, pelo contrário... Ele estava
com vontade de olhar para trás, para as últimas carteiras e procurar por uma
resposta com o olhar. Era um tímido e não se encorajava. A professora explicava
num mapa as regiões do Brasil e ele viajava num rumo diferente.
Ainda bem que ela não estava olhando pra ele, nem fazendo perguntas, só
estava expondo a matéria. Na hora da verificação, acabaria saindo-se mal. Não
gostava de ignorar as coisas perguntadas. Só não se saía muito bem quando se
tratava de fazer contas de números fracionários.
A professora dizia-lhe que em Português, e em matéria de leitura e
entendimento ele se saía bem; mas nos cálculos tinha dificuldades. Agora estava
distante, pensava em poesias românticas, em música sentimental. Estava meio
perdido nos pensamentos confusos. O bilhete queimando no bolso.
Uma vontade de relê-lo, palavra por palavra. Interessante, não era um
bilhete bem escrito, tinha até erro de Português - por que a curiosidade? Só
ele sabia dele, não foi como no dia do correio elegante, pai, mãe e seu
Francisco do armazém querendo saber, dando palpites. Agora, tinha um bilhete e
era diferente. Tinha um bilhete que trazia uma declaração de amor e uma
assinatura. Trazia mais: trazia um convite para um bate-papo na praça, às duas
horas, se ele quisesse namorar de verdade. Marina era bonitinha, ele queria.
Falta-lhe jeito de dizer, tinha que escrever um bilhete respondendo, era mais
fácil. No intervalo, escreveu o bilhete, fechado no banheiro. Quando ela
chegou, a resposta a esperava na carteira. Quase no fim da aula, ele criou
força e olhou para trás. Marina sorria, confirmando. Ele sorria também.
Diversas vezes, ele olhou pra trás e a encontrou olhando. Trocaram sorrisos e
olhares. Os dois estavam vivendo uma ternura primeira e não sabiam escondê-la
mais. Tanto assim que a professora pediu que ele virasse pra frente, observasse
o que ela estava pedindo pra pesquisa do fim de semana.
Naquele fim de semana, ele iria pesquisar alguma coisa nova que não
tinha experimentado, como alguns outros de sua idade e turma.
Elias José. O bilhete do amor. In: Histórias de amor. Coord. José Paulo Paes.
RESPONDA:
1. Como faz a
fotografia, é próprio do gênero “conto” flagrar um momento especial na vida de
um personagem.
a) Quem é o personagem em foco?
b) Que momento especial é esse?
2. Em uma narrativa, quem narra a história se chama narrador, que pode ser o próprio personagem ou não.
TIPOS DE NARRADOR:
As histórias podem ser narradas pelo próprio personagem ou por alguém de
fora, que não participa dos acontecimentos.
No caso de um narrador personagem,
temos uma narrativa em 1ª pessoa.
Verbos e pronomes estão na primeira pessoa do singular. Neste caso, a história é narrada do ponto de vista do narrador,
que interpreta, à sua maneira, os acontecimentos de que participa.
Exemplo:
"Nasci na taba duma
tribo tupinambá. Sei que foi numa meia-noite clara, de lua cheia. Minha mãe
viu que eu era magro e feio."
Quando o narrador é alguém de fora
da história, temos uma narrativa em 3ª
pessoa. Verbos e pronomes estão na terceira pessoa.
Exemplo:
"Agora estava distante, pensava em
poesias românticas, em música sentimental. Estava meio perdido
nos pensamentos confusos."
Releia este trecho do conto:
Logo que colocou os objetos embaixo da
carteira, Pitu encontrou o bilhete. Leu, ficou vermelho, colocou no bolso, não
mostrou pra ninguém.
a) Identifique os verbos no
trecho e grife-os.
b) Quem narra esse momento especial de Pitu é o próprio personagem?
Justifique-se.
c) Se o narrador fosse o próprio personagem, como ficariam esses
verbos?
d) Quais são as ações descritas no trecho?
e) Em que lugar se passam essas ações? Retire do trecho a justificativa de
sua resposta.
f) Os colegas de Pitu e a professora poderiam ver essas ações de Pitu? Por
quê?
3. Observe outro trecho do
mesmo conto.
De vez em quando, mordia-lhe uma
curiosidade grande, uma vontade de reler pra ter certeza. Era uma revelação que
ele não estava esperando. Não podia dizer que estivesse achando ruim, pelo
contrário... Ele estava com vontade de olhar para trás, para as últimas
carteiras, e procurar por uma resposta com o olhar.
a) Nesse trecho, as ações também podem ser vistas? Por quê?
b) O que elas revelam?
4. O conto termina com esta
frase:
Naquele fim de semana, ele iria
pesquisar alguma coisa nova que não tinha experimentado, como alguns outros de
sua idade e turma.
RESPONDA:
O que seria a coisa nova que Pitu iria
pesquisar naquele fim de semana?
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